Não é de hoje que Porto Alegre se afirma como capital da participação. O calendário intenso das últimas semanas permitiu reafirmar isso. Quase que simultaneamente ocorreu o Conexões Globais, Marcha das Vadias, Marcha da Maconha, Fórum de Paz na Colômbia, Marcha contra o Corte de Árvores. Em toda essa efervescência aparentemente desconexa, qual o ponto em comum? Em todos os episódios mencionados, saltou aos olhos de quem acompanhasse a insatisfação contra os veículos
tradicionais de comunicação e a busca por meios alternativos de
expressão.
Vivemos um tempo onde vem à tona as múltiplas identidades e uma
vontade aparentemente desorganizada e caótica de manifestações. A máxima
expressa pelo falecido cantor Chorão parece que valeu por muito tempo: sempre quis falar nunca tive chance, tudo o que eu queria estava fora
do meu alcance. A internet abriu a represa da comunicação dos
“sem-voz”, e agora se “ouve” de tudo, uma verdadeira Babel de expressões
diversas, plurais, múltiplas. Parece que pontos de convergência estão
cada vez mais nítidos. Ao cabo e ao fim vive-se um anseio por liberdade
de expressão.
As pessoas querem expressar seus anseios. Mulheres vão as ruas,
escrevendo em cartazes e nos próprios corpos que são donas de si, que
exigem ser respeitadas. Ambientalistas vão às ruas denunciar o que
consideram mentiras da mídia empresarial. Ativistas da América Latina vem dialogar em Porto Alegre sobre a Paz na Colômbia, ativistas pregam a legalização da maconha. Ao cabo e ao
fim, o ponto em comum é o anseio da liberdade. Todos e todas querem
expressar a liberdade. A única porta aberta para essa expressão tem sido
a internet e as ruas, e nelas uma enxurrada de expressão jorra, qual represa que
estoura de repente.
A pergunta que se faz e deve ser alvo de uma reflexão coletiva é: até
quando somente a internet e as ruas serão suficientes? Toda essa diversidade de opiniões na
internet, nas manifestações de rua, nos debates, enquanto que em televisões, rádios, jornais e revistas
somente uma meia-dúzia falam? Até quando a sociedade se contentará com
uma estética que lhe é cada vez mais estranha? A pergunta já está sendo
respondida em outros países da América Latina, que tem tomado medidas
democratizantes dos medyos de comunicação. Não demorará muito
para a festa da diversidade que já escoa nas redes e nas ruas bater a
porta dos jornalões, telinhas e rádios empresariais.
Quem duvida?
Igor Corrêa Pereira
Técnico Administrativo da UFRGS e Secretario estadual de Juventude Trabalhadora da CTB
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