terça-feira, 25 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
68 e nós: paralelos e diferenças
Maio de 68 foi um movimento inicialmente sem comando, espontâneo que pegou a todos de surpresa. |
Por Daniel Vieira Sebastiani*
Há uma clara dificuldade em se distanciar
de um fenômeno social que ocorre no seu período de vida e no instante em que
acontece. Mas, a análise e o conhecimento da história podem ajudar a desvendar
a essência dos fatos.
Em primeiro lugar, cabe desmistificar o
papel das novas tecnologias nos acontecimentos. Sem dúvida, a comunicação via
internet acelerou, e muito, situações que levariam mais tempo. No entanto,
movimentos espontâneos sempre existiram. Na Rússia Imperial foi um movimento
absolutamente espontâneo, de donas de casa que saíram à rua para reclamar das
panelas vazias, e que conseguiram o apoio das tropas mandadas para reprimi-las,
que garantiu a derrubada do Império secular na chamada Revolução de Fevereiro,
anterior a Revolução de Outubro, esta sim, planejada e socialista. O mesmo pode-se
dizer da Comuna de Paris que iniciou de forma espontânea.
Movimentos espontâneos são milenares e,
portanto, nenhuma novidade.
Há, sem dúvida, particularidades em
momentos históricos tão distintos e são estas que nos interessam.
Para tentar nos aproximar cabe analisar um
movimento social mais recente que guarda alguns grosseiros parâmetros, embora
tenha sido muito maior e relevante historicamente, com a ação atual no Brasil.
Maio de 68 foi um movimento inicialmente
sem comando, espontâneo que pegou a todos de surpresa. Se tornou algo enorme
que levou às famosas barricadas em Paris, à destruição de carros, à paralisação
da França, de forma tão intensa que o Presidente De Gaulle teve que fugir do
País.
Maio de 68 foi um movimento, na origem, sem
conexão com os grandes partidos, dos Gaullistas da direita aos Comunistas.
Maio de 68 iniciou com grupelhos radicais,
mas se estendeu muito além deles.
Maio de 68 foi um movimento de jovens
revoltados, cada vez mais amplo, que eram contra tudo e não sabiam bem a favor
de quê, mas protestavam contra as injustiças e a sociedade consumista, queriam mais,
queriam outro futuro, fora de todas as opções existentes à esquerda e à direita.
Por isso, as bandeiras eram algo tão vago e difuso como: “É proibido proibir”;
“A imaginação no poder”, “Tire o asfalto da rua e você encontrará a Praia”.
Maio de 68 queria o novo e não o velho; sem
saber onde se encontra o novo. Contra as injustiças da família patriarcal e
contra o socialismo real, contra as injustiças do capitalismo e contra a
esquerda partidária.
Maio de 68 representou os jovens que foram
fruto da melhoria da vida na Europa no pós-guerra com a reconstrução e as
políticas sociais; o acesso às condições dignas de vida, que antes não existiam,
o acesso à Universidade, que antes não ocorria; o acesso ao conhecimento.....mas
que se perguntavam, e agora? Que fazer com isto? Onde está o nosso espaço
diante da rigidez das estruturas universitárias e a da falta de perspectivas de
fazer algo além de consumir um pouco mais, e ... sempre menos do que outros...
No Brasil de hoje as condições da sociedade
melhoraram, o acesso à universidade melhorou, a economia e a justiça social
avançaram. No entanto, as camadas médias tradicionais não vislumbraram grandes
avanços para si, a não ser talvez na esfera do serviço público, como
servidores, e nos ganhos de capital indiretos, fruto do avanço econômico na
esfera privada.
Por outro lado, se sentem órfãs na política
quando não vislumbram uma saída no neoliberalismo e não se sentem contempladas
nas políticas de Governo de ampliação dos direitos, tendo, pelo contrário, de
enfrentar novas concorrências, velhos encargos tributários injustos e novos
encargos salariais aos eventuais empregados.
Assim como em 68 o motor são os jovens, sobretudo das camadas médias.
A conexão de simpatia com a base da sociedade ocorre por conta das
demandas em favor de um transporte público de qualidade e mais barato e das
reivindicações por saúde e educação.
A falta de relação com os partidos e movimentos organizados, responde a
fatores semelhantes aos jovens de 68: os movimentos sociais tradicionais e os
partidos de esquerda se vinculam a uma política mudancista que nem sempre
atende a estas camadas médias e estão tolhidos, no seu ímpeto de luta, pela
burocratização, compromissos governistas e arranjos eleitorais. A luta contra o
aumento das passagens não passava, quando era feita, de mero ritual que logo se
esgotava, isto quando os compromissos eleitorais, governistas e de
financiamento de campanhas não impediam os partidos de esquerda de agir nesse
sentido.
Portanto, é nesse vácuo de mobilização que
se “externaliza” este sentimento coletivo contra a corrupção, a política
tradicional, rotulada pela mídia como corrupta e assim assimilada pelos que
protestam, tendo como consequência certa negação dos partidos.
Em resumo: a falta de programa claro, liderança
clara e objetivos claros, além da redução do valor das passagens, trazem, em si,
a evidência de um setor que não têm identidade com qualquer programa efetivo e
se solidifica no vácuo de mobilização deixado pelo tradicional campo de
esquerda e popular representativo dos trabalhadores.
É uma terra de ninguém e de todos, razão pela qual cada setor da
política e da sociedade têm evitado confrontá-lo diretamente, com a esperança
de dirigir-lo ou,pelo menos, neutralizá-lo em relação a si: é a postura dos
monopólios da imprensa, do governo e dos partidos.
Quem vencerá a batalha é difícil dizer: o que tende a ocorrer é, a
história já nos mostrou dezenas de vezes, um arrefecimento, mais ou menos lento,
da mobilização, o que não significa, necessariamente, a ausência de consequências
de longo prazo, estas podendo ocorrer em diversas direções.
Na Europa, 68 permitiu alterações nos espaços de cidadania e direitos,
desde as relações familiares tradicionais aos direitos individuais, passando
pelo desenvolvimento da educação pública e do estado de “bem estar social”
tendo, no entanto, e de forma perigosa, como efeito imediato, a vitória
eleitoral da direita e o desenvolvimento de um nefando pós-modernismo
anti-socialista.
Ao contrário do Governo de direita francês, que atacou à época de forma
repressiva as manifestações, o Governo popular de Dilma dialoga com o mesmo para
tentar pautá-lo. Assim como o Partido Comunista Francês e o movimento sindical
entraram na luta para obter vantagens trabalhistas dos patrões e do governo, ao
mesmo tempo em que atacavam os radicalismos espúrios e anti-partidos de parte
do movimento, a esquerda brasileira e o movimento social organizado devem
tentar disputar e pautar as manifestações atuais.
As circunstâncias apontam alguns limitadores: a esquerda é governo e,
portanto, têm limites à capacidade de radicalização em favor do “contra”. Por
outro lado, enquanto governo, tem enormes possibilidades de tentar direcionar a
ação para o seu lado: radicalizar contra os privilegiados e o capital
financeiro, por exemplo, “o combate aos privilégios e privilegiados da
sociedade brasileira através de projetos de lei sobre o imposto às heranças e
fortunas ou sobre o controle social da mídia”. Mas a moderação imposta pelas
circunstâncias e concepções do Governo tende a atrapalhar esta saída. Fica-se
com a possibilidade de ações de vulto na esfera do transporte público de
massas, ou algo semelhante, e...apenas declarações de simpatia pelo movimento.
O desfecho deste processo, além do previsível esgotamento e falta de
consequências em termos de alterações nas estruturas de poder, pode apontar
para um gradual domínio do movimento social com a definição mais clara de uma
pauta e ação ou para um domínio da direita, através da mídia, no sentido de um
grande protesto contra a corrupção habilmente dirigido contra a política, os
partidos e, (através da copa e falta de melhor educação e saúde), o Governo
Dilma, abrindo caminho para um fortalecimento eleitoral da direita que, além do
mais, capitalizará aqueles setores assustados com a “baderna” e desejosos de
alguém que traga “a ordem”, o que ocorreu, guardadas as diferenças, na França
pós-68.
Mesmo que aqui o desenlace seja outro, cabe à esquerda uma inevitável
reflexão quanto ao vácuo de mobilização por ela deixado, a sua “maresia
institucional”, ou seja, a sua corrosão programática por excessiva pragmática
no jogo de poder sob as atuais regras.
Por outro lado, a simpatia da massa popular por um movimento que não é
dela, traz a tona, (falando em passagens de ônibus...), os riscos da conjuntura
econômica que está se formando, em que a inflação ameaça fortemente os esforços
de distribuição de renda empreendidos até então.
Atualização de 23 de junho.
Há momentos na história em que as coisas se
aceleram, estas manifestações de junho é um deles.
Sem comprometer as análises acima, se impõe
reconhecer que as manifestações estão assumindo um caráter abertamente
“lacerdista”, com um viés anti-partidos, que pode rapidamente evoluir para um “fora
Dilma”.
Esta evolução é tanto mais provável quanto
reforçada pela essência social do movimento: as camadas médias, justamente as
menos beneficiadas no atual processo e, portanto, muito vulneráveis ao discurso
“lacerdista” da grande imprensa.
Diz-se que as mudanças da história e as
quedas de aviões nunca têm uma única causa: são frutos de um somatório de
fatores que se sucedem e entrelaçam.
Estes fatores estão se entrelaçando
perigosamente:
- Uma esquerda e um movimento social atônitos e desnorteados;
- Um Governo que ainda não sabe o que fazer: o discurso da Presidente do dia 21 referendou a manutenção da ordem face ao vandalismo e trouxe propostas de forma vitoriosa, mas atrasada, tudo indica que a denúncia do golpismo e o apelo às bases populares já se fazia necessário;
- A mídia obtém na base social das camadas médias a possibilidade concreta de apontar seu “lacerdismo” contra a Dilma;
- Há uma passividade repressiva em nome da democracia e alguns milhares de pessoas paralisam e causam pavor a conglomerados de dezenas de milhões;
- A inflação e aumento da crise, com a desaceleração do mercado de trabalho, criam o enorme risco de tornar as classes trabalhadoras, (hoje passivas, solidárias à luta contra o aumento das passagens, e contrárias ao caos do vandalismo, mas não “lacerdista” e “anti-partidista” militantes, muito menos aliadas do anti-Dilma), aliadas destas posturas; se isto acontecer será o pior dos mundos para o projeto popular!
Ao que tudo indica se impõe medidas
rápidas:
- Se o “Fora Dilma” surgir não será mais possível ignorá-lo; é preciso denunciá-lo e atacá-lo publicamente;
- A participação nas manifestações seguindo a regra do jogo deve ser reavaliada; pode ser necessário chamar contramanifestações, evitando choques diretos;
- A força pública tem que, com base em legislação e medidas do executivo, evitar o bloqueio de vias públicas por um tempo excessivo;
- Os partidos populares, o movimento social e o Governo, (este último com parcimônia), têm que apelar à base do povo e a classe trabalhadora pelas mudanças e contra o golpismo, denunciando as bandeiras dos “anônymus” da internet e a intenção de acabar com as conquistas como o bolsa família e a universidade para todos; é preciso recorrer a massa para enquadrar as camadas médias enquanto é tempo!
Não há dúvida, as manifestações que
iniciaram contra a carestia das passagens por grupos de ultra-esquerda ligados
às camadas médias e, portanto, através das “redes”, foi rapidamente
hegemonizado por um discurso moralizador de cunho conservador e “lacerdista”,
que predominava nesses meios virtuais, por conta da ação da grande mídia e sua
formação do “senso comum”.
É preciso reagir ou o retrocesso será o
fruto da onda conservadora que está se formando.
“Saúde, Educação
Dilma Sim
Golpe Não!”
Tudo o que se constata hoje pode não ser válido amanhã: o momento é de
aceleração.
Daniel Sebastiani é professor da Fundação Liberato Salzano em Novo Hamburgo/RS e coordenador da Fundação Mauricio Grabois no RS.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
"Pode chover, pode molhar, mas o Brasil eu vou mudar!"
O dia de ontem ficará na história do Brasil como mais um grande episódio em que se observou grandes movimentos de massa. Só em Porto Alegre, foram 20 mil pessoas nas ruas, apesar da chuva insistente e do frio implacável. Segundo o jornal Metro, foram registradas manifestações em 80 cidades do país. A mídia tradicional deu um destaque nunca antes visto a estes movimentos, procurando ressaltar seu caráter apartidário. A Rede Globo inclusive deixou de exibir o capítulo da novela das oito para dedicar-se exclusivamente às manifestações, procurando contar a história sob a sua óptica, sempre servil aos interesses do capital.
O ato de ontem em Porto Alegre foi claramente heterogêneo e sem uma direção central. A ausência dessa direção resultou em duas marchas distintas, que acabaram se encontrando na altura do viaduto entre a Duque de Caxias e a João Pessoa. Neste ponto, sob sinais de aprovação nas janelas, dentre elas as da Casa do estudante da UFRGS, foi possível constatar uma relativa unidade da caminhada com gritos de "vem pra rua vem contra o aumento", dentre outros. O apego a bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul – bem como de seus hinos – também ficou bastante evidenciado.
Militantes com bandeiras de movimentos e partidos foram hostilizados em alguns pontos da jornada, mas predominou o clima de unidade. Estudantes e jovens empunhavam uma enorme faixa da União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) pedindo "10% do PIB para a educação", que foi amplamente apoiada pelos manifestantes. Muito se ofereciam para segurar a faixa, na caminhada que rumou da João Pessoa para a Ipiranga. Mais atrás da faixa, observavam-se bandeiras da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Optando pelo não confronto com a polícia, milhares tomaram a Lima e Silva gritando por mudanças no Brasil
No entroncamento da Ipiranga com a Lima e Silva, um grande divisor de águas da jornada. Ao saber que 500 metros a frente o pelotão de choque guarnecia a sede do Jornal Zero Hora do Grupo RBS, dezenas de jovens liderados pela União da Juventude Socialista (UJS) decidiram fazer uma parada para avaliar a situação. "Não queremos violência e enfrentamento com a polícia", definiu a conferencia improvisada. O grosso da multidão, contudo, seguiu rumo ao enfrentamento iminente com a polícia, apesar dos gritos apelando para que não fizessem isso.
Poucos minutos depois o apelo pela não violência começou a ser atendida por uma multidão considerável, que decidiu rumar pela Lima e Silva numa demonstração de manifestação pacífica. Enquanto a polícia defendia a RBS de maneira
truculenta na Ipiranga, lançando bombas de gás lacrimogêneo em cima de milhares de manifestantes, mais de três mil pessoas tomaram a Lima e
Silva rumo ao Largo Zumbi dos Palmares na capital gaucha, cantando o
hino do Brasil e do Rio Grande do Sul, e palavras de ordem
do tipo "pode chover, pode molhar, mas o Brasil eu vou mudar!", "um, dois, três, quatro, cinco, mil, não quero a cura gay,
quero a cura do Brasil", "olê olê, olê olá, corrupção vai acabar,
reforma política para o Brasil mudar", "o povo não esquece, abaixo a
RBS", e "povo na rua qual é sua missão? 10% do PIB para educação".
O coordenador da União Estadual de Estudantes Livres (UEE-Livre) Álvaro Lotterman avalia que "A festa da juventude na rua, que apesar da chuva queria mudar o país, não vai ser calada pela violência policial, nem instrumentalizada pela direita golpista". O estudante referia-se às lamentáveis cenas de violência policial e os constrangimentos a vários militantes com bandeiras, que se repetiram em várias manifestações pelo país.
Em São Paulo, o Movimento Passe Livre (MPL), um dos organizadores dos atos, se retirou
do protesto na quinta (20), depois de perceberem a tentativa de
partidos de direita de se apropriarem da mobilização e da agressão
contra partidos de esquerda. "O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário", diz nota emitida ontem. O Movimento disse repudiar atos de violência contra partidos, informando inclusive que organizações partidárias construíram o movimento desde o começo. "Oportunismo é tentar exclui-la da luta que construímos junto", denuncia a nota.
"Daqui de Porto Alegre, terra de chuva e de Fórum Social Mundial, demos ontem um recado à mída e a direita: NÃO PASSARÃO", disse Igor Pereira, secretário de juventude trabalhadora da CTB do Rio Grande do Sul, que segurou a faixa dos 10% do PIB para educação ontem todo o tempo com os estudantes. "A juventude demonstrou que pode fazer um ato pacífico e propositivo, pautando a reforma política, recursos para a educação, democratização da mídia, a luta por um estado laico e outras tantas bandeiras importantes. É claro que a mídia está tentando manipular e grupos de direita, com discurso antipartido, estão tentando desviar o foco, mas demonstramos que é possível contrapor esses grupos e propor a unidade do povo para avançar nas mudanças", afirmou.
O ato de ontem em Porto Alegre foi claramente heterogêneo e sem uma direção central. A ausência dessa direção resultou em duas marchas distintas, que acabaram se encontrando na altura do viaduto entre a Duque de Caxias e a João Pessoa. Neste ponto, sob sinais de aprovação nas janelas, dentre elas as da Casa do estudante da UFRGS, foi possível constatar uma relativa unidade da caminhada com gritos de "vem pra rua vem contra o aumento", dentre outros. O apego a bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul – bem como de seus hinos – também ficou bastante evidenciado.
Militantes com bandeiras de movimentos e partidos foram hostilizados em alguns pontos da jornada, mas predominou o clima de unidade. Estudantes e jovens empunhavam uma enorme faixa da União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) pedindo "10% do PIB para a educação", que foi amplamente apoiada pelos manifestantes. Muito se ofereciam para segurar a faixa, na caminhada que rumou da João Pessoa para a Ipiranga. Mais atrás da faixa, observavam-se bandeiras da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Optando pelo não confronto com a polícia, milhares tomaram a Lima e Silva gritando por mudanças no Brasil
No entroncamento da Ipiranga com a Lima e Silva, um grande divisor de águas da jornada. Ao saber que 500 metros a frente o pelotão de choque guarnecia a sede do Jornal Zero Hora do Grupo RBS, dezenas de jovens liderados pela União da Juventude Socialista (UJS) decidiram fazer uma parada para avaliar a situação. "Não queremos violência e enfrentamento com a polícia", definiu a conferencia improvisada. O grosso da multidão, contudo, seguiu rumo ao enfrentamento iminente com a polícia, apesar dos gritos apelando para que não fizessem isso.
Violência policial foi marca triste do protesto de ontem |
O coordenador da União Estadual de Estudantes Livres (UEE-Livre) Álvaro Lotterman avalia que "A festa da juventude na rua, que apesar da chuva queria mudar o país, não vai ser calada pela violência policial, nem instrumentalizada pela direita golpista". O estudante referia-se às lamentáveis cenas de violência policial e os constrangimentos a vários militantes com bandeiras, que se repetiram em várias manifestações pelo país.
Em São Paulo, o Movimento Passe Livre (MPL), um dos organizadores dos atos, se retirou
"Daqui de Porto Alegre, terra de chuva e de Fórum Social Mundial, demos ontem um recado à mída e a direita: NÃO PASSARÃO", disse Igor Pereira, secretário de juventude trabalhadora da CTB do Rio Grande do Sul, que segurou a faixa dos 10% do PIB para educação ontem todo o tempo com os estudantes. "A juventude demonstrou que pode fazer um ato pacífico e propositivo, pautando a reforma política, recursos para a educação, democratização da mídia, a luta por um estado laico e outras tantas bandeiras importantes. É claro que a mídia está tentando manipular e grupos de direita, com discurso antipartido, estão tentando desviar o foco, mas demonstramos que é possível contrapor esses grupos e propor a unidade do povo para avançar nas mudanças", afirmou.
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Você acha que o brasileiro acordou agora?
Movimento dos caras-pintadas em 1992: um dos muitos episódios em que o povo foi pra rua exigir mudanças. |
Por Vitor Espinoza
Estima-se que nesta segunda (17/06) 350 mil pessoas foram
às ruas, protestando centralmente contra o aumento das passagens, mas também por um difuso movimento de mudanças.
Ainda está indefinida a a proporção que as
coisas estão tomando no Brasil. Os protestos estão cada vez mais heterogêneos,
e amanhã vai ser maior, um dia gigante e imprevisível. Protestos são convocados
nas redes e nas ruas eclodem em cada canto dos Brasil
A Dilma está com tudo na mão pra avançar
nas mudanças! Ela não faz se não quiser! Tem o respaldo desse povo que
está na rua! Ou será que vai vencer a voz do dinheiro? A voz dos mega
investidores do sistema financeiro?
Reacionário, eu não estou do seu lado. Não vem
transformar esse protesto legítimo em luta contra a
política, contra as bandeiras. Historicamente
foram as bandeiras que tu queres proibir que se ergueram contra a corrupção e
hoje se erguem bem alto pela reforma política que de fato combata a corrupção
que agora te indigna.
Não vem usar nariz de palhaço, não tem palhaço nenhum
aqui. Agora que a mídia comprou a manifestação tu vem dizer que acordou? O povo
brasileiro esteve e está sempre acordado. Saia da frente da televisão e vai
estudar: Revolução Farroupilha, Quilombos, Inconfidência Mineira, Conjuração
Baiana, Revolução de Pernambuco, Confederação do Equador, Cabanagem, Balaiada,
Sabinada, Revolta dos Malês, Abolicionismo, Revolta da Vacina, Revolta da
Chibata, Canudos, Contestado, Tenentismo, Coluna Prestes, criação da FEB, O
Petróleo é nosso, passeatas de 1968, campanha da Anistia, Diretas Já,
Cara-pintadas, Marcha do sem, Conclat.
O povo já está na rua há muito tempo, movimentos sociais
estão mobilizados apanhando da polícia faz muito tempo. São eles os
baderneiros, os vândalos, os que atrapalham o trânsito. Movimento pelo
transporte, Movimento Feminista, Movimento Gay, Movimento pela Terra, Movimento
Estudantil e Trabalhadores Ninguém tava dormindo! Essa violência que espanta
todo mundo não é novidade, não é coisa de agora. Acontece TODOS os dias nas
periferias brasileiras, onde não tem câmera pra registrar ou repórter para se
machucar e modificar o discurso da mídia.
Não podemos admitir que nossa luta seja convertida pela
direita numa passeata contra a política. Contra a corrupção lutamos sim, mas só pela mudança da
política se combate a corrupção. Não é uma causa de neoliberais. Não é
uma causa pelos valores e pela família. Não estamos pedindo o fim do Estado –
pelo contrário, lutamos por um estado forte com educação publica, gratuita e de
qualidade, por qualificação profissional de jovens, mais emprego e melhores
salários fim do preconceito e discriminação.
Então se tu realmente acredita que a mídia tá do nosso
lado, abre os olhos! São muitas as maneiras de se acabar com um levante: força
policial, mídia oportunista, adoção e desconstrução do discurso…
Reacionários estão determinados a também sair do facebook
e transformar a insatisfação coletiva numa versão inchada do elitista Movimento Cansei, com sua pauta
moralista e anti-esquerda. Por outro lado, governistas estão mais preocupados
em deslegitimar as manifestações e em blindar os governos, que não se
pronunciam sobre o que acontece por não conseguirem compreender o novo, e quando
se pronunciam, não conseguem sair de cima do muro.
A multiplicidade
de pautas que desaguam nessa insatisfação generalizada torna impossível
vislumbrar os rumos que as coisas irão tomar. Será árdua a tarefa de
disputá-los mas o caminho é o de um Brasil democrático a serviço do povo mais pobre, qualidade no
transporte publico com tarifas mais baratas.
A pressão nas ruas inclusive já forçou quatro capitais
brasileiras a anunciarem redução ou manter a mesma tarifa nesta terça-feira
(18/06): Porto Alegre, Recife, João Pessoa e Cuiabá no transporte público,
segundo o que anuncia o sítio da Carta Capital.
A juventude brasileira na rua também luta por saúde,
educação e segurança, e como fazer isso? Enquadrando os grandes poderosos,
começando pelos bancos, reduzindo o superávit primário, taxando as grandes
fortunas e distribuindo melhor a renda, com mais direito social para os
trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho para 40 h e o fim do fator
previdenciário, porque são os trabalhadores os verdadeiros donos da riqueza do
Brasil.
Queremos uma polícia que respeite o direito de
manifestação contra o governo e contra uma empresa de comunicação. Queremos a
polícia para nos proteger e não para proteger o capital. Queremos a polícia
para proteger o nosso direito de manifestação. Queremos respostas do estado. Queremos
propostas. Queremos expressar a liberdade não só nas
redes e nas ruas, mas também na mídia tradicional que hoje só dá voz aos
poderosos. Queremos uma política séria, honesta, democrática e
transparente.
Estamos numa encruzilhada histórica. Avançar ou
retroceder, depende do resultante da juventude na rua. O presente é tão grande
que não acontecerá sem a participação de cada um de nós pressionando e lutando
por um Brasil melhor sem desigualdades
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